
Além das terras incógnitas e mares desconhecidos - Nenhum instrumento é comparável à guitarra portuguesa.
Toda a matéria sonora que por ela passa torna-se um destilado da alma, uma metempsicose sonora. Abandonada pelo resto
da Europa, encontrou refúgio no porto seguro do estuário do Tejo e nas margens do Mondego, ora lamentando a crueldade
do destino em tabernas e bordéis das colinas de Lisboa, ora acompanhando serenatas nos becos das Repúblicas, dentro
da sábia cerca de Coimbra. Nas suas cordas de metal vibra uma nostalgia indomável a que chamam saudade. Ninguém pode entender o significado desta palavra se nunca ouviu a voz do seu timbre, porque é um instrumento que canta o que as palavras não conseguem exprimir. Luisa Amaro escolheu a guitarra portuguesa depois de ter acompanhado Carlos Paredes na guitarra clássica por muitos anos. Uma escolha corajosa, não só porque é uma das poucas mulheres a aventurarem-se com
um instrumento tipicamente masculino, mas também porque sair da sombra do génio que era o músico de Coimbra significou assumir uma grande responsabilidade. Esquivando-se à tentação do virtuosismo, assimilou a expressividade dos silêncios
que tornaram as execuções de Carlos Paredes incomparáveis, procurando, no entanto, o seu próprio caminho. Atraída
pelo calor e pelas cores do Mediterrâneo, Luisa Amaro explorou os seus limites inspirando as suas músicas nas histórias fascinantes do Mare Nostrum. A sua procura não parou, e agora entrega-se ao destino atlântico que marcou esta extremidade ocidental da Europa, assim abandonada num estado de anseio inapagável. De maneira discreta e sóbria, Luisa apoderou-se
de músicas que representam terras banhadas pelos oceanos e inventou outras ainda para lembrar a aventura épica do navegador entre os navegadores. Paolo Scarnecchia